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O Passeio Público do Rio de Janeiro foi implantado em um território que, até o final do século XVIII, fazia fronteira com o mar por um lado e com o Morro das Mangueiras pelo outro, tendo a Lagoa do Boqueirão d’Ajuda ocupando a grande área que depois seria aterrada para dar lugar ao jardim. A lagoa era a única da cidade que, naquela época, desaguava no mar, além de impedir o acesso à Zona Sul pelo caminho do Engenho D’El Rei.

Entendido como “um dos sítios mais imundos do pequeno burgo colonial”, o Passeio veio ocupar a faixa entre o mar e o morro sob as alegações de promover a ventilação da região e de acabar com os maus cheiros e dejetos que degradavam o ambiente. Uma epidemia de gripe e febre foi atribuída aos miasmas da lagoa, favorecendo seu aterramento.

Desde sua concepção, o Passeio Público narra uma história de violência contra o território. O desmonte do Morro das Mangueiras e o desaparecimento da Lagoa do Boqueirão corroboraram um discurso higienista que queria promover a elitização e a limpeza urbana com a construção de um jardim supostamente idílico, apaziguado. Mas o mar e a lagoa seguem embaixo da terra que tentou sepultá-los. Quando chove muito, a água volta, alagando a rua do Passeio e lembrando que as águas e o solo do Morro das Mangueiras não se deixaram domesticar tão facilmente.